
R$ 20,00
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Título:
HOMEM MASSA
Autor: Jéferson Assumção
Dimensões: 14 x 21 cm
Gênero: Filosofia
Ano: 2012
A Cátedra Unesco de Leitura tem procurado
que a coleção com seu selo traga algumas contribuições
relevantes para pensar a leitura e a formação de
leitores. Desde o primeiro título de Marta Morais, Mapa
do Mundo (2009), em que crônicas preciosas sobre livros
e leituras foram recolhidas como um roteiro para
formação do leitor, até o recente Leitura pelo Olhar do
cinema (2013), cujos estudos de imagens nos ajudam a
entender as representações em torno do ato de ler, não
nos afastamos do compromisso de divulgar pesquisas que
possam apoiar a tarefa assumida.
Nas sendas trilhadas desde o Proler
(91/96), a primeira tentativa de construir uma política
de leitura não só em teoria interdisciplinar, mas na
prática interinstitucional, seguimos com o propósito de
divulgar contribuições singulares e por isso diversas,
no que toca aos encaminhamentos e procedimentos na
sustentação epistemológica e atuação metodológica para
que a formação de leitores deixe de ser uma tarefa
restrita à escola e se satisfaça com a mera
alfabetização.
Esta pesquisa de Jefferson Assunção,
muito relevante para pensar a leitura, porque além da
base filosófica consistente é , ao mesmo tempo, oriunda
de uma episteme muito pouco explorada, a de Ortega y
Gasset, que o autor desenvolve com grande habilidade e
faz confluir para o horizonte contemporâneo da ênfase no
leitor com seus repertórios de vida, para estabelecer um
diálogo com os acervos da cultura. Daí o interesse em
editar e promover sua visão teórica que amplia as
isotopias pelas quais as políticas públicas em favor da
leitura se justificam e se sustentam.
A partir dos conceitos de autonomia x
heteronomia, de homens-massa x leitores vitais,
racionalismo x vitalismo, leitura funcional x leitura
cultural, o pesquisador e gestor de políticas desenvolve
a promoção de uma relação da cultura com a leitura,
baseando-se no raciovitalismo em que articula uma
reflexão proveitosa de Descartes e Nietzsche, para
encaminhar melhor a discussão sobre os baixos índices de
consumo de livros e as diversas práticas leitoras que se
alargam no país, embora a qualidade das leituras
permaneça sob forte questionamento. Justamente porque
vê, mesmo entre intelectuais uma relação mecanicista com
o mundo, aponta os limites de seu desdobramento quando
se quer uma sociedade cujos membros sejam sujeitos de
seu pensar e decisões, na perspectiva de um compromisso
social e ético com a humanidade como um todo.
Com certeza, o caminho argumentativo do
livro demanda discussões apuradas sobre recortes
conceituais e seu funcionamento, mas é justamente aí que
a riqueza da pesquisa abre expectativas que podem
contribuir sensivelmente para o debate e a promoção do
valor político da leitura. Ao lado do apuro
interpretativo, contextualizado, enunciado em bases
críticas, a relação com a cultura aponta o homem vivo,
de carne e osso, que "sofre" o discurso e suas
representações e precisa se inserir com sua história na
construção dos sentidos.
Nesta leitura, Jefferson Assumção
articula o século XX ao XXI aproximando a distancia de
cem anos entre Ortega y Gasst e Edgard Morin,
revitalizando o papel da comunicação e da educação
através da experiência cultural múltipla, na formação de
uma sociedade efetivamente leitora: de livros, de
literatura, de formas e movimentos, de discursos e
estamentos, enfim de das artes e linguagens em que põe a
sistematização da história e da civilização do homem.
Reconhece, desde logo, que outros autores, teóricos e
gestores de políticas públicas, convergem nesta
preocupação e outros se antecipam por outros caminhos a
esta discussão.
O grande exercício que desafia o
pesquisador, comprometido na prática com uma política
cultural de natureza ampla e inclusiva, é justamente, o
ponto de partida filosófico que ele habilmente lê para
assinalar já no pensamento pós-moderno, lacunas e
omissões oriundas de um horizonte da modernidade mal
resolvido, que pensadores da esquerda e da direita
consensualmente denunciam e aparece em sua pesquisa
perspicaz. Este jogo conceitual, muito elaborado,
transparece já no título que propõe umaIlustração que
seja Vital.
Os três capítulos apresentam uma reflexão
de base sobre o lugar da leitura na educação e na
comunicação, sobre sua relação com a escrita e a
tecnologia, antes de passar ao plano das políticas de
livro e da leitura no Brasil, que se iniciaram na década
de 90 com a Fundação Biblioteca Nacional e o Proler,
para alcançar no sec XXI a formatação de um PNLL, com
apoio interministerial, e que, nos tropeços da
administração pública vai se consolidando com o esforço
de toda uma camada social, de pesquisadores, professores
e agentes culturais, num debate em que nação se vê
interessada, perseguindo efetivamente a inclusão não
apenas na posse de bens materiais, mas o empoderamento
cultural e crítico que só a leitura de natureza
hermenêutica e semiológica podem favorecer.
A obra que está sob seus olhos, caro
leitor, merece leitura atenta e disposição de
interlocução para estimular a rede de amplas
possibilidades na formação de leitores no país; trazendo
a contribuição de um autor que já dispõe de pouco espaço
na teoria e crítica da cultura, Jefferson atualiza as
preocupações que todo homem de letras, que reconhece seu
espaço político na construção do sujeito e da cidadania,
enfrenta e elabora. Ele mesmo se junta a esta rede com
esta obra que passa a integrar a coleção Leitura &
Leitores da Cátedra Unesco de Leitura e seu Instituto
Interdisciplinar de Leitura PUC-Rio, associando-se à
Fundação Ortega y Gasset.
Eliana Yunes
Instituto Interdisciplinar de Leitura
PUC-Rio. |