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Título: CADERNO DE HISTÓRIAS, antologia mínima
Autora: Valesca de Assis

- FINALISTA DO PRÊMIO AÇORIANOS

ISBN:978-65-88865-01-9

Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 48
Gênero: Conto
Publicação: Bestiário / Class, 2020

Num único átomo
Luís Carmelo*


Uma Antologia diz-se Mínima, porque promete tudo num único átomo. E por isso avança em várias direcções: para que do minúsculo possa brotar o gesto essencial (talvez a colona a palitar os dentes em “Instantâneo”).
Uma dessas direcções é existencial e pauta-se pelo nomadismo interior que cresce como uma partida que é refém da iminência de cada chegada (“O outro (Azorean torpor)”).
Uma outra versa a poética do cata-vento genealógico e debruça-se sobre a solidão, como se a falésia convergisse numa mão cheia de milho para dar aos pombos (“Aos pombos, aos pombos”).
Uma outra ainda é de cariz ofeliano, mas sem águas. Apenas terra sobre terra em abono de um fio-de-prumo interior capaz de superar horizontes e acenos trágicos (“Claquete”).
O fundamento da saga é, no entanto, o leme do amor que tanto aparece metaforizado por gemas e claras da “montanha russa” como pela mais insondável de todas as metamorfoses (“Está bem, gato”). E o não dito, já se sabe, é sempre mais forte do que toda a matéria dita.
Depois do fundamento, o espaço abre-se finalmente à alegoria do parto, vista como semente da revolução, mas também dos percursos aventurosos que visam criar mais mundos no mundo (“Tábua dos destinos”).
Enfim: o minúsculo ressurge como um arquipélago criado por fragmentos que vagueiam com a liberdade que não teme a separação ou o embuste (“Exercícios de casa”).
E não há átomo prometido que não conclua a sua história com uma versão doce do pecado original (“Infância”). A mesma que, de início, segredaria a carne e o sangue de que é feito o “Consolo”.
Os meus parabéns, Valesca, por saber dizer átomo em recitativo feito apenas de letra.

(*) Escritor e Professor,
Diretor da EcOn – Escrita Criativa on-line,
Lisboa, Portugal.